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21 fevereiro 2011

CRÔNICA INTERROMPIDA PARA DIALOGAR

Por: Pastor Carlos Magalhães



São João, o Apóstolo, escreveu em sua primeira carta que Deus é amor.


Lindo isso.


Para mim, isso quer dizer muito mais do que as palavras podem traduzir. Isso implica de maneira inexplicável que todas as ações de Deus, são, não apenas baseadas no amor, mas tudo o que Deus faz...




- Ei, ei. Carlos?


- Sim, sou eu – respondo polido.



- O que você está fazendo, Carlos? - me questiona a voz, que a esta altura já é óbvio com quem estou conversando.


- Estou escrevendo sobre você.


- Sobre mim? O que você está escrevendo sobre mim, Carlos? - me interroga o Onisciente Deus.


- Que você é amor e que tudo o que você faz é amar, seja lá o que for.



- Sei... Parece ser um bom pensamento - diz Deus, sem confiar muito nas minhas palavras.


- Parece bem razoável – eu retruco.


- Razoável? - me questiona, Deus.


- É, ué? Se você é amor, então é razoável que tudo que você faça seja baseado neste amor, que é a sua essência, não é?


- Não sei, quem está dizendo é você. O fato é, e você, me ama?


- Sim – afirmo, sem pestanejar.


- Tem certeza?


Me calo... perguntar se aquele que declara que ama tem certeza de amar não me parece ser uma boa pergunta para esse tipo de diálogo.


- Então, Carlos, seus problemas não são suas incertezas. Nós dois lidamos com elas, não é mesmo? O grande problema é que para você tudo isso - amor, amar, Deus, Jesus, Espírito Santo, teologia, cruz, igreja - tudo isso é bastante razoável. Por isso, para você, quando algo não está dentro do seu limite razoável, é fácil para você desprezar. Enquanto você tenta me amar com sua razão, eu continuarei a te perguntar, “tem certeza?”.


- Por que você faria isso? - questiono.


- Quando o amor é razoável, deixa de ser amor. Ele se encaixa no seu “razoável”. Até mesmo, eu, deixo de ser essencial, e passo a ser apenas mais uma variável da equação que você formulou para a vida.


- Pode ser que você tenha razão... - digo com ironia.


- Você não precisa se defender com suas ironias, sarcasmos ou braços cruzados. Aonde não há ataques, a defesa é desnecessária, Carlos.


- É, eu sei – confirmo com a cabeça, foi um “eu sei” verdadeiro.


- Quer ver como as coisas estão um pouco bagunçadas na nossa casa, filho? - pergunta Deus, com a candura que poucos esperam ouvir dele.


- Quero... Acho que quero sim - me arrisco.


- Lembra daquela menina, aquela que pediu para você levar maçãs para ela no hospital?


- Lembro.


- Você a ama?


- Amo sim.


- Qual era o nome dela?


Me calo... eu não sabia. Silencio entre o céu e as questões vindas de dentro de mim.


- Qual era o nome dela, Carlos? Ela sempre pergunta por você, te chama de “meu titio pastorzinho”, qual é o nome dela? - insiste Deus.


- Não me lembro – me envergonho, mas prefiro responder, principalmente porque sei que quem me interroga já conhece minhas respostas.


- Você tem certeza que a ama?


- Não – respondo envergonhado.


- Você saberia me dizer o nome das garotas que você já se interessou de verdade desde o jardim de infância?


- Como é que é? - pergunto meio que sem entender.


- Você entendeu... saberia?


- Sim. Acho que saberia falar o nome de quase todas, sim. Mas o que isso tem a ver?


- Tem a ver, que os seus nomes, você não esquece. Porque você se ama. Você finge que não se ama, eu sei. Às vezes finge que me ama, eu também sei. Mas seu maior problema é que você se ama mais do que qualquer coisa – Deus não parece chateado, admito, mas parece querer resolver a questão - Quer outro exemplo? Você se lembra do nome daquele garoto que você não queria na sua célula, porque ele era “diferente” demais?


- Não, não lembro. Mas eu o chamei várias vezes depois. Pedi para que o convidassem quando eu era supervisor. Ele é que acabou não indo.


- Que bom, filho. Eu sei disso tudo. Mas, qual era o nome dele?


- É, o nome eu não lembro.


- A questão não são os nomes. Decorar nomes é fácil demais, é só um exercício de memória, não é amar. A questão é que quem ama, sabe os nomes, Carlos. Naturalmente. Quem ama se importa. Faz do outro algo importante para si.


Mais silêncio.


- Carlos? - me chama, Deus.


- Sim – digo em voz baixa.


- Você me ama? - pergunta Deus.


- Às vezes tenho certeza que sim, às vezes eu simplesmente não sei – abaixo a minha cabeça, como uma criança que fez algo errado.


- Filho, levante a cabeça. Faça com que eu seja importante para você. Extrapole sua razão, seu racional e deixe que a principal parte da sua vida (e digamos que a principal parte seja eu, e você sabe que não é) seja a única parte. Então, você se lembrará de todos os nomes, porque todos os nomes passarão por um nome anterior.


- O nome de Jesus? - questiono, como se estivesse em um concílio para ordenação pastoral.


- Sim, Carlos. Mas não esse Jesus construído pelas suas teologias e razões. Um Jesus real, que clama pelo seu amor, que lhe pede maçãs, e que ainda aparecerá para você de maneiras inimagináveis. Quando isso acontecer, você descobrirá que o ama – afirma Deus.


- É...


- E ele lhe dirá “apascenta as minhas ovelhas”. E tudo aquilo que você luta para descobrir, você achará com a naturalidade de quem colhe uma fruta madura no tempo certo.




No fim, Deus não se despede, porque sei que ele continua comigo. E eu lembrei do nome da menina, o que me deixou um pouco mais em paz, mas não me lembrei do rapaz da célula. Mas percebi que amor, é algo muito mais profundo do que qualquer arte pode descrever.

Um comentário:

  1. Excelente o texto! Nossas atitudes são reflexos da presença de Deus em nossa vida. Podemos escolher amar, ou não! Vamos refletir!

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